plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

Conselhos
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Um dia desses, caminhei com meu filho pela rua. Evento raro para uma maternidade pandêmica. Tive a experiência de ouvir conselhos de pessoas desconhecidas. É como se uma mãe, com seu filho, tivesse algo de coletivo. As pessoas se sentem parte daquilo. Algo parecido acontece já na gravidez. O barrigão chega e, com ele, chegam as sugestões. 

Nesse dia, na rua, enquanto embalava meu filho, uma mãe me disse: "aproveita enquanto cabe no colo". Eu respondi que "pode deixar, que tenho meus pés bem no chão quando estou com ele". Segui no embalo, procurando a soneca e outra voz de mãe interrompeu nossa dança: "é filho único? Não te enche de filhos, filhos custam caro". Eu sorri e agradeci pelo conselho: não me incomodei com o pragmatismo da mensagem.

Já tenho reflexões sobre o número de filhos que quero ter. Entendo os conselhos como preocupações de quem quer encurtar o caminho para outra pessoa. Fico apenas com uma questão: os pais também ouvem conselhos? Com a proximidade do dia deles, pensei em fazer uma pequena lista. Espero que não se importem.

1) Seja para sua criança sinônimo de segurança, ludicidade e compreensão. A paternidade não pode rimar com agressividade. Não se perca nos sufixos: paternidade é paciência e não violência

2) Essa criança é sua também: não diga para a mãe dela coisas como "eu te ajudo" ou "posso ficar com ela para você"

3) Quando você cuida do seu filho ou filha, você está fazendo o seu papel e tendo a oportunidade de ser exemplo e aconchego. Não perca a chance de construir a relação mais bonita da sua vida;

4) Acredite no seu poder de pai. Com a exceção de gestar, parir e amamentar, você pode tudo nanar, acalmar, divertir, entreter e alimentar. Não caia na conversa de que sua cria "só se acalma com a mãe"

5) Saiba dar afeto: se sua infância não lhe deu esse luxo, exercite e aprenda. Pegue no colo, embale, dê cheirinhos, afofe. Sua masculinidade não será abalada. Pelo contrário, você estará colaborando para a reinvenção da masculinidade, que precisa ser menos viril e mais saudável para homens e para mulheres. Eu sei que você ouviu sandices como "vira homem, guri!" ou que "homem não chora!", mas não reproduza esse tipo de violência

6) Meu último conselho é, na verdade, uma revelação: te fizeram acreditar que as mães sabem, naturalmente, o que fazer com aquela trouxinha que acabou de sair da barriga, mas não sabem. Então, não tenha medo de sentir medo diante do serzinho chorão. Peça ajuda, acredite nas tentativas e analise os erros, siga em frente, que vai dar certo. Você será um paizão.

Olimpíadas
Eni Celidonio
Professora universitária

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Semana passada, assistia ao Sala de Debate, na TV Diário, daqui de Santa Maria, e os debatedores falavam dos jogos, campeonatos e olimpíadas esportivas nas escolas, no século passado. Não tive como não me lembrar dos Jogos da Primavera, no Rio. Eram anuais, geralmente no estádio do Vasco, e tinham várias modalidades de esportes. Os alunos ficavam em polvorosa! 

Era lindo de ver os ginastas de uniforme, competindo pelo seu colégio. Corais e bandas abriam os jogos, todos se envolviam, cantavam, lutavam pela medalha e pelo troféu para a instituição à qual pertenciam. A Educação Física tinha salto a distância, altura, corrida de revezamento, ginástica rítmica, futebol, vôlei, handball, gente, era uma festa! 

Em 1971, a Universidade Gama Filho tinha um programa de atletismo muito interessante. Lembro que um colega meu era da equipe de salto ornamental, mas não sei se eles conseguiram manter o programa por muito tempo. Mas o nosso bicho papão era o Colégio Militar. Meus sais... Era um colégio masculino, como o São Bento, Santo Inácio etc., e os atletas que ele apresentava não dava nem pra começar: eram umas feras!

Assistindo às olimpíadas pela televisão, fiquei pensando quanto nós perdemos de preparação para os esportes nas escolas. Saber que muitos atletas da equipe brasileira são motoristas de aplicativos; que outros são verdadeiros heróis, que tiveram que se exercitar em lugares totalmente inadequados por falta de incentivo. Que tristeza... E tem gente que consegue criticar nossos atletas, como se eles competissem em igualdade de condições com os adversários. Façam-me o favor! As universidades americanas, por exemplo, têm equipes de atletas que são um celeiro para as olimpíadas; as escolas também têm programas esportivos, as crianças desde muito cedo convivem com esportes. Ah, mas eles... Putz, o que interessa aqui não são eles, somos nós! Quando vamos entender que ninguém vira atleta aos 40 anos? Quem foi o gênio que resolveu acabar com o esporte nas escolas? Meus parabéns!

Mas voltando aos Jogos da Primavera, eu pertencia às equipes de salto a altura, a distância e corridas de revezamento. No alto dos meus um metro e meio, com trinta e sete quilos, voava. Agradeço todo dia essa experiência porque, segundo meu traumatologista, isso me ajudou horrores quando meu tornozelo virou farofa. Ganhei algumas medalhas, perdi outras, mas o importante era estar lá no meio da gurizada, as amizades que fazíamos, competir em nome do colégio. Era tudo muito simples, sem grandes shows como as Olimpíadas de Tóquio, mas era o que tínhamos. Bons tempos aqueles...

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